Os objectos têm neles uma memória incrustada, uma passagem de saberes e gestualidades, uma das facetas da sua mobilidade. Mas ganham também um rasto subjetivo, fruto da relação com o sujeito: memória de momentos de interação e das emoções a ele agregadas. Esses sentimentos ajudam a tornar inteligível um certo desdobramento da linguagem, uma disponibilidade a buscar no objecto um dado espelhamento, uma alteridade objectual. Os objectos ajudam a tornar presente, algo que o cinema, enquanto objecto temporal, também permite de certo modo compreender. “Objetos Entre Nós”, de Júlio Alves, incita a pensar essa relação entre a objectualidade e as potencialidades do cinema. O cinema como matriz a partir do qual seria possível, mais do que visualizar essa memória inscrita, propor um espaço, por vezes paradoxal, onde os objectos e a sua materialidade transcendem o uso e são personagem, motor, olhar.