Abstract
No reduto nordeste do mundo grego, no espaço particular de
Lesbos, de fronteira com os riquíssimos reinos da Ásia Menor, em finais do
século VII a.C., durante um período de grande turbulência social e política,
nasceu Safo, a primeira e mais célebre das poetisas da Antiguidade. A
tradição mítica, que colocara mesmo ao lado, no território continental da
Mísia, o epicentro do maior conflito político de sempre, o da Guerra de Tróia,
uns séculos antes, provocado pela sedução fatal de uma mulher conduzida
por Afrodite, acreditou também de alguma forma que esta singular voz lírica,
mais diáfana e intensa, mais sugestiva e apaixonada que nenhuma outra,
trazia em semente, com o poder inefável da alma feminina, a melódica
inspiração divina de Orfeu, cuja cabeça, decapitada pela fúria das mulheres
trácias, ali aportara arrastada pelos mares. Muito apreciada e lida na Antiguidade, a avaliar pela quantidade de citações e notícias que sobre ela se escreveram, a qualidade poética da obra de Safo, a musicalidade dos seus termos, a qualidade excepcionalmente
transparente e luminosa das suas imagens, a fluidez dos seus ritmos, e a
capacidade quase mágica que revela de transmitir uma impressão
profundamente tocante acerca do absolutamente inefável, fê-la atravessar
como uma singularíssima voz de mulher os limites do tempo, e permitiu-lhe
manifestar intemporalmente, ainda que particularmente fragmentada, a sua
sedução incomparável. Esta comunicação pretende abordar a singularidade desta voz lírica, não só pela análise de alguns dos seus fragmentos, mas também pelo
revisitar dos mais relevantes testemunhos que dela nos transmitiram os
autores antigos, procurando, através de uns e outros, esclarecer a enigmática
e controversa natureza da importância, social, cultural, e poética, de Safo no
mundo greco-latino.
Lesbos, de fronteira com os riquíssimos reinos da Ásia Menor, em finais do
século VII a.C., durante um período de grande turbulência social e política,
nasceu Safo, a primeira e mais célebre das poetisas da Antiguidade. A
tradição mítica, que colocara mesmo ao lado, no território continental da
Mísia, o epicentro do maior conflito político de sempre, o da Guerra de Tróia,
uns séculos antes, provocado pela sedução fatal de uma mulher conduzida
por Afrodite, acreditou também de alguma forma que esta singular voz lírica,
mais diáfana e intensa, mais sugestiva e apaixonada que nenhuma outra,
trazia em semente, com o poder inefável da alma feminina, a melódica
inspiração divina de Orfeu, cuja cabeça, decapitada pela fúria das mulheres
trácias, ali aportara arrastada pelos mares. Muito apreciada e lida na Antiguidade, a avaliar pela quantidade de citações e notícias que sobre ela se escreveram, a qualidade poética da obra de Safo, a musicalidade dos seus termos, a qualidade excepcionalmente
transparente e luminosa das suas imagens, a fluidez dos seus ritmos, e a
capacidade quase mágica que revela de transmitir uma impressão
profundamente tocante acerca do absolutamente inefável, fê-la atravessar
como uma singularíssima voz de mulher os limites do tempo, e permitiu-lhe
manifestar intemporalmente, ainda que particularmente fragmentada, a sua
sedução incomparável. Esta comunicação pretende abordar a singularidade desta voz lírica, não só pela análise de alguns dos seus fragmentos, mas também pelo
revisitar dos mais relevantes testemunhos que dela nos transmitiram os
autores antigos, procurando, através de uns e outros, esclarecer a enigmática
e controversa natureza da importância, social, cultural, e poética, de Safo no
mundo greco-latino.
Original language | Portuguese |
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Publisher | Novas Edições Académicas |
Number of pages | 79 |
ISBN (Print) | 9786202174077 |
Publication status | Published - 1 Mar 2018 |