Capitalismo autoritário: uma alternativa viável à democracia liberal?

A China apresentou, nas últimas décadas, níveis impressionantes de desenvolvimento, reforçando a ideia de que o país desenvolveu um modelo económico que funciona eficazmente sem democracia. Parte significativa deste aparente sucesso teve origem nas alterações de fundo introduzidas por Deng Xiaoping. Paradoxalmente, o massacre de Tiananmen, não só não suspendeu tais reformas, como parece ter reforçado a confiança do Partido Comunista Chinês (PCC) na sua capacidade de criar um modelo alternativo. Em 1989, Deng optou pela repressão política violenta, com o objectivo de manter o Partido unido, evitando uma potencial fragmentação do país. Tendo em consideração que a China está a transitar inevitavelmente para um nível de crescimento económico menos acentuado, a manutenção do
regime deverá obrigar a um maior número de restrições aos direitos fundamentais, cívicos e políticos, da população. A repressão dos uigures em Xinjiang, o recurso cada vez mais intenso às tecnologias de vigilância de massas, bem como a Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, são apenas alguns exemplos disso mesmo. Neste contexto incerto, este capítulo analisa as perspectivas do modelo chinês, argumentando que o provável abrandamento do crescimento económico, associado ao aumento das práticas autoritárias, pode
levar ao renascimento do sonho, vivido em Tiananmen, de uma sociedade livre e justa. No entanto, especialmente nos dias de hoje, não podemos deixar de reconhecer que a democracia é uma construção frágil. É certo que se trata de um sistema normativamente superior e mais humano, mas tais características não implicam necessariamente que prevaleça. O modelo da China pode assim ser, para alguns, uma alternativa atraente para alcançar prosperidade e modernização tecnológica, mesmo contrariando valores universais fundamentais. Nesta conjuntura, as democracias devem resistir à tentação de imitar os seus opositores autoritários, optando por reforçar os seus elementos positivos, sem descurarem o seu poder militar e económico, ao mesmo tempo que promovem o diálogo e a cooperação entre as nações livres, e combatem activamente no campo das ideias.