Culturas, identidades e litero-línguas estrangeiras: atas do III colóquio internacional de línguas estrangeiras (CILE)

Alexia Dotras Bravo, Ana Maria Alves, Cláudia Martins, Elisabete Mendes Silva, Isabel Chumbo

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Abstract

O III Colóquio Internacional de Línguas Estrangeiras (CILE), realizado em outubro de 2019, cujas atas se apresentam neste volume, subordinou-se à seguinte temática: “Politicamente incorreto: será o mundo dos poliglotas?”. O título do volume – Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras – representa uma extensão da sigla do Colóquio, porque surge como pertinente e representativa da abrangência deste Encontro Internacional e consentânea com os objetivos subjacentes ao mesmo. As múltiplas expressões das línguas estrangeiras assumem, por isso, uma importância incontornável no mundo atual, tendo igualmente constituído elementos de reconhecido mérito e influência. Ao longo da história, várias línguas se assumiram como lingua franca pela conquista, pelo comércio e pela conversão religiosa (cf. Ostler, 2011), inevitavelmente associadas à construção de impérios. Vejam-se os exemplos do grego, latim, português, espanhol, alemão, francês e inglês. Tal evidência resultou numa uniformização linguística, cultural e política, ainda que a par destas coexistissem as línguas vernáculas. A valorização das culturas nacionais, sob os auspícios do pluralismo cultural herderiano, ganhou novo fôlego com a recuperação de tradições e costumes, da literatura tradicional, muitas vezes de pendor regionalista (cf. Contos dos Irmãos Grimm, o Romanceiro de Almeida Garret, Rimas y leyendas de Gustavo Adolfo Bécquer ou os Cuentos de Encantamiento de Fernán Caballero), e das variedades linguísticas consideradas exóticas. No entanto, e paradoxalmente, nasce também a noção de norma padrão ou de prestígio que faz parte do discurso das nações em processo de afirmação, ou seja, se por um lado se defendem as peculiaridades linguísticas, por outro, procura-se abafá-las para que estas sejam substituídas pelas línguas nacionais em emergência. Com o desenvolvimento do método comparativo e a descoberta das famílias das línguas (com base no seu parentesco), impõe-se também um processo de prescritivismo linguístico que só se vai paulatinamente desconstruindo durante o século XX. Com base nestes novos princípios, começa a falar-se de línguas de prestígio (ou prestigiadas) a par de línguas minoritárias (ou menorizadas) social ou culturalmente, criando-se estigmas linguísticos que pouco favorecem o convívio transcultural e translinguístico. O prestígio inerente a determinadas variedades em nada se relaciona com categorias morais ou éticas, mas antes com a ideologia de que destas emana. No contexto atual, o inglês, como uma das últimas lingua franca, impõe-se nas organizações internacionais e multinacionais como a ponte linguística preferencial, sem esquecer a forte presença comercial do chinês na economia internacional. O uso de uma língua única leva-nos a questionar se esta postura não será politicamente incorreta, demasiado redutora de uma realidade por natureza multilinguística, poliédrica, transnacional e nómada. Nesta linha de pensamento, apresentamos o desafio de contrariar esta tendência monolinguística e uniformizadora, valorizando também todas as línguas e culturas sem preconceitos. Esta foi a premissa principal que norteou o debate do III CILE, em 2019, uma vez que acreditamos que a aprendizagem de uma panóplia de línguas e culturas estrangeiras pode abrir portas ao diálogo, ultrapassar fronteiras, tender pontes em conflitos e enriquecer culturas. No mundo atual, que afirma fronteiras e reafirma identidades para ultrapassar a desconexão e a incomunicabilidade, acreditamos no poliglotismo natural dos espaços transfronteiriços, no cosmopolitismo cultural secular e na porosidade dos mesmos, apesar da globalização tão marcada no mundo digital. Atualmente, já não basta falar uma só língua estrangeira, a globalização, a “desterritorialização”, a “deslocação” das migrações, da diáspora e do exílio exigem que sejamos poliglotas capazes de nos exprimirmos para estabelecer relações interculturais e, como afirma Edward Said (2005, p. 141), cultivar a perceção da diversidade em termos de diferentes mundos e tradições. Na visão de Aínsa (2015), somos poliglotas porque todos somos estrangeiros nesta sociedade transcultural, passageiros em trânsito de um cronótopo que nos faz nómadas, errantes e mestiços num mundo em eterno presente fugaz. Os benefícios do multilinguismo são enormes para nos auxiliar a ultrapassar o fosso linguístico entre culturas. A língua deixa de ser pátria porque todas elas serão meramente temporárias (Said, 1996, p. 76). Atravessar fronteiras leva a romper barreiras de pensamento e de experiência, levando-nos a despertar para uma aprendizagem plural de línguas, para a reconquista da Torre de Babel. No III CILE, foram propostos diversos temas e tópicos para discussão, dos quais os seguintes se encontram abrangidos nas presentes atas: • Os escritores poliglotas • A força das línguas mortas • Monolinguismo vs. Plurilinguismo • LE/cultura, memória e identidade • Tradução e ensino das LE A todos os autores expressamos os nossos agradecimentos pela colaboração e disponibilidade manifestadas na publicação1 dos seus textos.
Original languagePortuguese
Place of PublicationBragança
PublisherInstituto Politécnico de Bragança
Number of pages228
ISBN (Print)9789727452842
Publication statusPublished - Dec 2020
Externally publishedYes

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