EMAP perspective #2

EMAP PERSPECTIVE #2

GALERIA ZERO + SALA ZERO + GALERIA UM – GNRATION
PRAÇA CONDE DE AGROLONGO 123,
4700–312 BRAGA

9.05.2024 – 17.08.2024
SEGUNDA A SEXTA 09H30 ÀS 18H30
SÁBADOS 10H AS 18H30

Mais que uma mera busca estética a arte pode ser também uma forma profunda de documentação, de preservar o transitório, questionar e captar a essência da experiência humana com uma profundidade e liberdade sem paralelo. Através desta prática, obtemos uma visão do zeitgeist, dos climas sociais e políticos e das narrativas pessoais que moldam a nossa história e subconscientes coletivos. Reconhecemos a arte como um registo vital e dinâmico, uma forma de ação, de tomar a história e a narrativa nas nossas próprias mãos. É exatamente neste contexto que os trabalhos apresentados nas várias galerias do gnration nos fazem confrontar com as vicissitudes de um mundo que se organiza por uma lógica socioeconómica mediada por uma tecnologia por vezes opaca.

EMAP Perspective #2 pertence a uma série de exposições coletivas que reúne obras desenvolvidas no contexto da rede European Media Art Platform, apresentando o trabalho de artistas emergentes que trabalham a new media art. Esta exposição foi pensada e curada no contexto da edição da Bienal de Arte e Tecnologia INDEX que este ano se construiu a partir do conceito de Coexistência, estabelecendo relações entre tecnologia, democracia e liberdade.

Dasha Ilina, em Advice Well Taken, e Nicolas Gourault, em Unknown Label, abordam as dinâmicas nas relações entre humanos e tecnologia. Ilina examina como as pessoas comuns se adaptam às tecnologias modernas, através de um vídeo em formato de entrevistas que explora a intimidade entre indivíduos e o mundo digital ubíquo que ocupa um espaço de mitos e superstições. Gourault, na peça mais bem conseguida da exposição, traz-nos um filme sobre os trabalhadores invisíveis do Sul Global que contribuem para a alimentação de sistemas de inteligência artificial, destacando as assimetrias globais e neocoloniais no trabalho digital. Ambas as obras, de formas quase opostas tanto na abordagem como na estética, lançam luz sobre as complexidades sociais e éticas que envolvem o uso e desenvolvimento de tecnologias contemporâneas.

Kat Austen, com Stranger to the Trees, e Bethan Hughes, em An Elastic Continuum, exploram as interações entre humanos, natureza e indústria. Austen, na obra que sai notoriamente diminuída nesta sua versão reduzida, parte do universo da investigação académica sobre os impactos dos microplásticos nas florestas, ilustrando as consequências ambientais das atividades humanas modernas, num vídeo duplo com algumas opções imagéticas por vezes ingénuas. Hughes, com a obra de maior destaque desta exposição, abraça a forma mais documental narrando a história do dente-de-leão russo e a sua relação com a indústria da borracha, refletindo sobre a exploração dos recursos humanos e naturais. O filme impactante é acompanhado de um conjunto escultórico de grande escala em metal e vidro, uma estilização elegante, mas imponente, do objeto floral.

Hardly Working, do coletivo de artistas autointitulado “pseudo-marxista” Total Refusal, oferece uma perspetiva crítica sobre o trabalho utilizando o jogo Red Dead Redemption 2 como analogia para explorar as representações do trabalho e produtividade nas sociedades contemporâneas. Numa instalação de video multicanal, observamos personagens não-jogáveis nas suas atividades infinitas (Sísifos virtuais). O coletivo usa esta metáfora para representar uma causa antiga, mas atual, onde o trabalho é a espinha dorsal do status social na estratificação do mundo capitalista.

Em conjunto, estas obras exploram os novos meios digitais e tecnológicos enquanto suporte artístico, não como um fim em si na exploração de novos virtuosismos, mas como elemento disruptor e ativo ao serviço da reflexão. Enquanto exposição coletiva de artistas emergentes, é possível encontrar-se uma outra fragilidade na construção das obras ou no equilíbrio entre as diferentes linguagens, mas não há dúvida que este é um ótimo exemplo da arte a refletir sobre as dinâmicas de poder, ética digital e as complexidades das interações entre humanos, tecnologia e ecossistemas globais convidando o público considerar as suas próprias interações e responsabilidades no mundo moderno.

– José Alberto Gomes