O Domínio da Língua Portuguesa e o Sucesso Escolar dos Alunos no Ensino Secundário Geral: Um estudo de caso em seis escolas dos municípios de Díli e de Oé-cusse

Esta Pesquisa foi realizada em seis escolas públicas do ESG dos municípios de Díli e Oé-cusse. Participaram na Pesquisa 362 alunos dos 10.º e 12.º anos de escolaridade, e 63 dos professores desses alunos. A recolha dos dados, junto das escolas, decorreu nos meses de maio e junho de 2016.
Os objetivos principais da Pesquisa pretenderam verificar o contributo da língua portuguesa para os resultados escolares dos alunos e analisar fatores determinantes no processo de ensino e de aprendizagem, em particular os que promovem a aprendizagem da língua portuguesa.
O contexto linguístico de professores e alunos é bastante rico e diversificado, uma vez que contactam com diversas línguas na vida sociocomunitária. A escola apresenta-se como local privilegiado para a utilização e o contacto com a língua portuguesa. Quando comparada com outras línguas, a língua portuguesa destaca-se como a mais importante no processo de aprendizagem quer na visão dos professores quer na visão dos alunos.
Em relação à importância da língua portuguesa para a futura vida profissional, 90% dos alunos consideram-na “importante” ou “muito importante”.
A média obtida pelos alunos na PANPLLP foi de 42,4%. Apenas 26% dos alunos obtiveram classificação positiva no teste de proficiência linguística B1, pelo que os restantes 74% estarão mais condicionados a realizarem uma boa aprendizagem em língua portuguesa. Os resultados dos alunos do 12.º ano revelaram-se superiores aos resultados obtidos pelos alunos do 10.º ano, no conjunto das competências avaliadas. Neste sentido, considera-se o ESG contribui para a aprendizagem da língua portuguesa.
Para os alunos que participaram na pesquisa, existe uma associação positiva3 entre os resultados obtidos na PANPLLP e os seus resultados escolares. Assim, neste contexto, alunos com melhores competências linguísticas e comunicativas em português obtêm, de um modo geral, melhores resultados escolares.
Os resultados obtidos pelos professores evidenciam que, de um modo geral, quanto mais idade tiver o professor mais elevado é o seu nível de proficiência linguística em língua portuguesa. Mais de 88% dos docentes iniciaram a aprendizagem do português após os 20 anos de idade e 24% dos professores iniciaram essa aprendizagem após os 40 anos de idade.
O nível de proficiência linguística obtido com maior frequência pelos professores na PANPLLP foi o nível B1. Apenas 13% foram colocados no nível mínimo desejado, o nível B2. Dos 63 professores que participaram na pesquisa, 43% obtiveram nível inferior a B1, pelo que o processo de ensino será relativamente difícil de se efetuar em língua portuguesa para estes profissionais. Os resultados justificam a continuidade dos esforços efetuados pelo Ministério da Educação em prover formação de e em língua portuguesa, de modo a garantir a qualidade de ensino desejável para o ESG. Assim, considera-se que a formação de língua portuguesa deve ser reforçada com atividades promotoras da expressão oral e da compreensão escrita, domínios onde os professores evidenciaram mais dificuldades.O acesso aos manuais por parte dos alunos é ainda limitado. De um modo geral, os alunos só têm acesso aos manuais na escola e quase sempre durante a aula. O conjunto dos inquiridos indica a necessidade de se proporcionar o acesso aos manuais com a dinâmica “um para um”, na aula, na escola e fora da escola. Mecanismos de divulgação e de distribuição dos manuais em suporte digital poderão aumentar o acesso aos mesmos e revelar-se uma estratégia economicamente mais viável no que respeita à sua reprodução e distribuição.
A disponibilização de dicionários revela-se, igualmente, fundamental para uma melhor para a melhoria de competências linguísticas de professores e alunos. Recomenda-se, assim, a distribuição de dicionários pelas escolas, em número suficiente, que possam ser utilizados em sala de aula, na biblioteca e na sala de professores.
Devem, também, ser criadas condições para que as bibliotecas funcionem em todas as escolas. As bibliotecas e os centros de recursos devem ser encarados como locais de descoberta, espaços de formação contínua, de acesso a recursos, de partilha e de acolhimento. Estas devem, portanto, ser apetrechadas de livros das diversas áreas em língua portuguesa e de materiais didáticos e tecnológicos, nomeadamente recursos audiovisuais que apoiem atividades letivas mais inovadoras e que “despertem” o interesse pela aprendizagem.
Relativamente às “condições logísticas”, professores e alunos afirmam que as salas de aula têm “boas condições”, porém referem que por vezes não são suficientemente grandes para o número elevado de alunos e que nem sempre existem carteiras disponíveis para todos os alunos. As condições sanitárias são requisitos mínimos que devem ser alvo de maior atenção por parte das direções das escolas e das autoridades educativas. Depósitos de lixo sólido, instalações de drenagem e fontes de água para a higiene e limpeza das instalações sanitárias.
Considera-se que para uma melhor aferição da relação entre o domínio da língua portuguesa e os resultados escolares dos alunos se utilize, futuramente, como variável os resultados dos exames nacionais. Considera-se também, que uma pesquisa alargada aos restantes municípios, conduzirá a uma análise mais significativa e, consequentemente, à possibilidade de resultados, conclusões e recomendações mais abrangentes.