TY - BOOK
T1 - Texto e Autoridade. Diversificação Socicultural e religiosa com a sociedade bíblica em Portugal (1804-1940)
AU - Leite, Rita Alexandra Borda de Água Mendonça
PY - 2017/5/22
Y1 - 2017/5/22
N2 - No trânsito da modernidade, entre os séculos XVIII e XIX, a referência à Bíblia constituiu um facto de expansão do cristianismo, persistindo nesse processo aspectos de destrinça entre as diversas correntes existentes e as novas que foram surgindo entretanto. Parte desta história foi protagonizada pelas Sociedades Bíblicas, cuja dinâmica foi inaugurada naquele período. O objecto desta tese é a apreciação do percurso e complexidade da implantação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE) em Portugal e a análise da problemática da divulgação da Bíblia e do impacto cultural impostos pela implementação daquele projecto no nosso país, procurando-se compreender aquela instituição não apenas a partir dos seus limites, mas também da sua plasticidade no respeitante aos seus objectivos e à sua concretização conjuntural, num percurso que acompanhamos desde a fundação daquela instituição (1804) até à data a da realização do primeiro Congresso Bíblico Português (1940). Através da implementação do seu plano de difusão bíblica, alicerçado na estruturação de uma rede lata de colaboradores, no estabelecimento de uma Agência na cidade de Lisboa, na construção de um sistema de colportagem e na criação dos chamados «Depósitos bíblicos», a SBBE protagonizou uma acção pioneira na sociedade portuguesa, desenvolvendo a sua acção num terreno específico de afrontamento de legitimidades, entre as quais se destacaram a liberdade de publicar, o livre acesso aos textos bíblicos em língua vernacular e o direito a publicar várias versões bíblicas numa mesma língua. Nesse sentido, a história da Sociedade Bíblica permite-nos acompanhar uma dinâmica de circulação interna na sociedade portuguesa que, centrada em torno da edição dos textos bíblicos, extravasa largamente o campo do religioso, precisamente porque aquele texto sagrado, apesar de integrado num programa de sentido universalizante como era o daquela instituição, tendia, pela sua natureza, a potenciar dinâmicas de natureza conflitual, introduzindo no debate cultural temáticas como a da Verdade e a da Autoridade e vendo-as necessariamente confrontadas com conceitos como os de Liberdade ou da Consciência, entendidos, combinados e contrapostos entre si de maneira distinta pelos diversos receptores daquela mensagem bíblica e defensores e opositores daquele projecto. O percurso da Sociedade Bíblica no país e o plano de divulgação bíblica que a mesma protagonizou foram parte integrante e activa do processo de recomposição religiosa em curso em Portugal na transição do século XIX para o século XX. Durante esse período a Sociedade Bíblica, promovendo as primeiras experiências no âmbito do interconfessionalismo cristão e interdenominacionalismo evangélico que tiveram lugar no país, constituiu-se também enquanto referencial de fronteira entre aqueles que se apropriaram do seu agir como factor contributivo para um processo de protestantização no país e o terreno católico que se defendeu dessa projecção confessional recorrendo, por sua vez, à relação específica do catolicismo romano com a Bíblia e ao lugar hegemónico que o mesmo ocupava no seio do contexto religioso e cultural português. Intervindo activamente naquele processo de diferenciação, o papel da Sociedade Bíblica estruturou-se também no âmbito da ampla complexificação do sistema religioso que acompanhou a construção da sociedade liberal em Portugal.
AB - No trânsito da modernidade, entre os séculos XVIII e XIX, a referência à Bíblia constituiu um facto de expansão do cristianismo, persistindo nesse processo aspectos de destrinça entre as diversas correntes existentes e as novas que foram surgindo entretanto. Parte desta história foi protagonizada pelas Sociedades Bíblicas, cuja dinâmica foi inaugurada naquele período. O objecto desta tese é a apreciação do percurso e complexidade da implantação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE) em Portugal e a análise da problemática da divulgação da Bíblia e do impacto cultural impostos pela implementação daquele projecto no nosso país, procurando-se compreender aquela instituição não apenas a partir dos seus limites, mas também da sua plasticidade no respeitante aos seus objectivos e à sua concretização conjuntural, num percurso que acompanhamos desde a fundação daquela instituição (1804) até à data a da realização do primeiro Congresso Bíblico Português (1940). Através da implementação do seu plano de difusão bíblica, alicerçado na estruturação de uma rede lata de colaboradores, no estabelecimento de uma Agência na cidade de Lisboa, na construção de um sistema de colportagem e na criação dos chamados «Depósitos bíblicos», a SBBE protagonizou uma acção pioneira na sociedade portuguesa, desenvolvendo a sua acção num terreno específico de afrontamento de legitimidades, entre as quais se destacaram a liberdade de publicar, o livre acesso aos textos bíblicos em língua vernacular e o direito a publicar várias versões bíblicas numa mesma língua. Nesse sentido, a história da Sociedade Bíblica permite-nos acompanhar uma dinâmica de circulação interna na sociedade portuguesa que, centrada em torno da edição dos textos bíblicos, extravasa largamente o campo do religioso, precisamente porque aquele texto sagrado, apesar de integrado num programa de sentido universalizante como era o daquela instituição, tendia, pela sua natureza, a potenciar dinâmicas de natureza conflitual, introduzindo no debate cultural temáticas como a da Verdade e a da Autoridade e vendo-as necessariamente confrontadas com conceitos como os de Liberdade ou da Consciência, entendidos, combinados e contrapostos entre si de maneira distinta pelos diversos receptores daquela mensagem bíblica e defensores e opositores daquele projecto. O percurso da Sociedade Bíblica no país e o plano de divulgação bíblica que a mesma protagonizou foram parte integrante e activa do processo de recomposição religiosa em curso em Portugal na transição do século XIX para o século XX. Durante esse período a Sociedade Bíblica, promovendo as primeiras experiências no âmbito do interconfessionalismo cristão e interdenominacionalismo evangélico que tiveram lugar no país, constituiu-se também enquanto referencial de fronteira entre aqueles que se apropriaram do seu agir como factor contributivo para um processo de protestantização no país e o terreno católico que se defendeu dessa projecção confessional recorrendo, por sua vez, à relação específica do catolicismo romano com a Bíblia e ao lugar hegemónico que o mesmo ocupava no seio do contexto religioso e cultural português. Intervindo activamente naquele processo de diferenciação, o papel da Sociedade Bíblica estruturou-se também no âmbito da ampla complexificação do sistema religioso que acompanhou a construção da sociedade liberal em Portugal.
KW - Autoridade
KW - Socicultural
KW - Religiosa
KW - 1804-1940
M3 - Doctoral Thesis
CY - Lisboa
ER -