TY - CHAP
T1 - Um episódio cosmopolita oculto
T2 - as atividades de tradução pelos exilados absolutistas em Paris (1834-1843)
AU - Maia, Rita Bueno
PY - 2022
Y1 - 2022
N2 - No seu artigo de 2013 «What Does the Comparative Do for Cosmopolitanism», César Domínguez chama a atenção para a relevância do estudo das «tradições [cosmopolitas] ocultas», como é o caso da tradição literária cigana. Por «cosmopolita», Domínguez entende tradições literárias que são quer multilingues quer produto de uma comunidade deslocada. Como «ocultas», o autor refere-se àquelas atividades cosmopolitas que foram ignoradas pelos comparatistas, devido à sua falta de «sofisticação». O presente artigo pretende apresentar um episódio cosmopolita desconhecido da Literatura Portuguesa, a saber, as atividades literárias dos exilados absolutistas em Paris depois da Guerra Civil (1828-1834). Primeiramente, argumentar-se-á que estas atividades se encontram ausentes das Histórias da Literatura Portuguesa. Obras como Saraiva/Lopes (1997) parecem ter delimitado a figura do exilado oitocentista português a um pequeno grupo de intelectuais caracterizados por um elevado grau de sofisticação não só social, mas também (e mais significativamente) político-ideológico. De fac-to, tal como se pretende demonstrar, o exilado português é tradicionalmente identificado com o pensador moderno ou, neste caso, o partidário da monarquia constitucional e vencedor da Guerra Civil. Para além disso, cabe relembrar que a noção de «cosmopolita» de finais do século xviii fora desenvolvida por Immanuel Kant como parte de um projeto para a paz mundial, projeto esse que tinha como base política a monarquia constitucional (Tihanov). Na segunda parte do artigo, serão analisados dados que permitem apresentar estes exilados como cosmopolitas, isto é, como envolvidos em atividades, nomeadamente tradução, que tinham como objetivo salvaguardar o uso da língua portuguesa em Paris. Importando o conceito de cosmopolitismo, desenvolvido por Michael Cronin, como indissociável do conceito de solidariedade, procurar-se-á demonstrar que as traduções publicadas por estes exila-dos formavam parte de projetos mais latos de resistência linguística e cultural. Concretamente, os exilados absolutistas forneciam à comunidade portuguesa em Paris: (1) uma literatura traduzida em Português; (2) um estabelecimento de ensino lusófono; (3) uma Livraria Portugueza que funcionava também como ponto de encontro.
AB - No seu artigo de 2013 «What Does the Comparative Do for Cosmopolitanism», César Domínguez chama a atenção para a relevância do estudo das «tradições [cosmopolitas] ocultas», como é o caso da tradição literária cigana. Por «cosmopolita», Domínguez entende tradições literárias que são quer multilingues quer produto de uma comunidade deslocada. Como «ocultas», o autor refere-se àquelas atividades cosmopolitas que foram ignoradas pelos comparatistas, devido à sua falta de «sofisticação». O presente artigo pretende apresentar um episódio cosmopolita desconhecido da Literatura Portuguesa, a saber, as atividades literárias dos exilados absolutistas em Paris depois da Guerra Civil (1828-1834). Primeiramente, argumentar-se-á que estas atividades se encontram ausentes das Histórias da Literatura Portuguesa. Obras como Saraiva/Lopes (1997) parecem ter delimitado a figura do exilado oitocentista português a um pequeno grupo de intelectuais caracterizados por um elevado grau de sofisticação não só social, mas também (e mais significativamente) político-ideológico. De fac-to, tal como se pretende demonstrar, o exilado português é tradicionalmente identificado com o pensador moderno ou, neste caso, o partidário da monarquia constitucional e vencedor da Guerra Civil. Para além disso, cabe relembrar que a noção de «cosmopolita» de finais do século xviii fora desenvolvida por Immanuel Kant como parte de um projeto para a paz mundial, projeto esse que tinha como base política a monarquia constitucional (Tihanov). Na segunda parte do artigo, serão analisados dados que permitem apresentar estes exilados como cosmopolitas, isto é, como envolvidos em atividades, nomeadamente tradução, que tinham como objetivo salvaguardar o uso da língua portuguesa em Paris. Importando o conceito de cosmopolitismo, desenvolvido por Michael Cronin, como indissociável do conceito de solidariedade, procurar-se-á demonstrar que as traduções publicadas por estes exila-dos formavam parte de projetos mais latos de resistência linguística e cultural. Concretamente, os exilados absolutistas forneciam à comunidade portuguesa em Paris: (1) uma literatura traduzida em Português; (2) um estabelecimento de ensino lusófono; (3) uma Livraria Portugueza que funcionava também como ponto de encontro.
KW - Aillaud
KW - Absolutistas
KW - Cosmopolitismo
KW - Exílio
KW - Redes de solidariedade
U2 - 10.34632/9789725408100_5
DO - 10.34632/9789725408100_5
M3 - Chapter
SN - 9789725408100
T3 - Estudos de Comunicação e Cultura
SP - 81
EP - 106
BT - Mudam-se os tempos, mudam-se as traduções? Reflexões sobre os vínculos entre (r)evolução e tradução
A2 - Lopes, Alexandra
A2 - Moniz, Maria Lin
PB - Universidade Católica Editora
CY - Lisboa
ER -