Lugar-não-lugar
: arquitetura epidémica do shopping mall ao hostel, Porto, 1980-2010

  • Paulo Ricardo Guedes Pinto (Student)

Student thesis: Master's Thesis

Abstract

A dissertação segue uma estruturação temática que resulta da seleção de conceitos essenciais na relação entre o indivíduo e a noção do lugar - perceção, memória, identidade, espaço – que constituem o corpo da reflexão, desta investigação. O inevitável convívio entre o indivíduo e a arquitetura gera uma constante perceção de diferentes espaços, que juntamente com a memória, cria identidade e origina lugar ao longo do tempo. O interveniente principal para a transformação de espaço em lugar é o ser humano, através das suas experiências sensoriais e metafísicas. Não-lugar pressupõe uma reflexão negativa de lugar, ou seja, é um espaço que não tem qualquer tipo de relação com o indivíduo. O trabalho propõe abordar a complexidade teórica inerente aos conceitos de lugar e de não-lugar através de uma premissa conceptual inicial – a possibilidade capicua de ‘lugar-não-lugar’-, na leitura da cidade do Porto ao longo das últimas três décadas. O recurso a duas tipologias distintas - shopping mall e hostel como tipos de uma aqui denominada arquitetura epidémica, permite compreender a sua implicação na criação ou não de cidade. Discutir se potenciam o lugar existente, se criam não-lugares, ou até mesmo se criam ‘novos lugares’, reinventando a noção de lugar pré-existente, a partir ou não da criação momentânea de não-lugares. A abordagem foca assim um primeiro objetivo que diz respeito aos centros comerciais de grande magnitude – shoppings mall -, que se localizaram cirurgicamente ao longo das principais artérias de comunicação da cidade e da região, a partir da década de 80. Estes novos espaços privados de uso público têm como objetivo principal atrair o maior número de consumidores, numa visão estratégica regional, mimetizando até certo ponto, a origem da tipologia na década de 50 nos Estados Unidos. No entanto, interessa na articulação da análise das duas tipologias avançadas, enquadrar alguns dos eventos marcantes no desenvolvimento da cidade nestas últimas décadas. Em 1996, a Unesco confere o estatuto de Cidade do Património Mundial à cidade do Porto e em 2001, é nomeada Capital Europeia da Cultura com a promessa do metropolitano como instrumento de recentralização e do combate à desertificação do centro da cidade e aposta no turismo através da reabilitação urbana. Estes dois momentos dilatados no tempo marcam algumas das políticas estratégicas para a cidade, num primeiro momento com intuito de salvaguardar o espaço protegido da Baixa histórica, e no segundo, com o intuito de requalificar o miolo urbano e a requalificação de espaços públicos da cidade através de equipamentos de várias escalas urbanas. No seguimento destes eventos, instalam-se no miolo urbano uma série de novas tipologias de alojamento local, reconvertendo e readaptando os antigos e caracterizadores edifícios da cidade, com especial destaque para o hostel , o arquétipo com mais exemplares, o qual se alastra como um vírus se alastraria no interior sistema imunológico de um ser humano, ou neste caso específico da cidade, no âmago do seu sistema nevrálgico, o centro histórico do Porto. Atualmente, o Porto apresenta sintomas de uma ‘cidade doente’ cujas terapêuticas de cariz urbanista e arquitetónico aplicadas parecem estar na origem de novas doenças. Por sua vez, essas doenças criam vulnerabilidades no corpo da cidade que ficam sujeitas à possibilidade de invasão de novos vírus: os não-lugares. Pretende-se responder então se é possível transformar um não-lugar em lugar.
Date of Award2024
Original languagePortuguese
Awarding Institution
  • Universidade Católica Portuguesa
SupervisorEmanuel José da Rocha Ferreira de Sousa (Supervisor)

Keywords

  • Space
  • Place
  • Public

Designation

  • Mestrado em Arquitetura

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