A primeira imagem e o impacto do fator humano nos processos políticos: Mikhail Gorbatchov e a implosão da União Soviética (1985-1991)

Os grandes fenómenos da Política Internacional compreendem simultaneamente uma dinâmica impessoal, sobretudo ligada a um conjunto de circunstâncias estruturais, e uma dinâmica individual, protagonizada pelos líderes políticos, seus erros e triunfos. Esta dinâmica individual é o principal objeto de estudo desta dissertação, no contexto da qual nos referimos ao impacto do fator humano para refletir acerca da importância da liderança política na condução de alguns processos políticos. Partindo da proposta metodológica de Kenneth Waltz em Man, the State and War: A Theoretical Analysis acerca dos diferentes níveis de análise nas Relações Internacionais, o fator humano constituirá a nossa lente de análise sobre o processo que, entre 1985 e 1991, culminou simultaneamente no fim da Guerra Fria, na demonstração do fracasso de uma ideologia e na queda de um império septuagenário. Centrada no papel desempenhado pelo último líder soviético, Mikhail Gorbatchov, a nossa reflexão far-se-á principalmente com base num conjunto de elementos ao nível da personalidade e das caraterísticas deste líder – o seu otimismo inabalável, as suas convicções, a geração a que pertence e as conexões importantes que estabeleceu ao longo da sua ascensão e carreira políticas com outros líderes. Entendemos que estas caraterísticas são, entre outros fatores explicativos, uma das grandes chaves interpretativas para entender como é que um regime totalitário pôde “produzir” um líder capaz de implementar aquilo que começou por ser um plano para recuperar a pureza do Marxismo-Leninismo e acabou por se transformar numa reforma de nível sistémico que, afinal, culminou no desaparecimento da União Soviética. O estudo desta liderança política e deste processo disruptivo não pretende, porém, demonstrar que todos os líderes têm o mesmo impacto no decurso de todos os processos políticos. Antes, pretende demonstrar que alguns líderes são a razão pela qual a História se escreve de uma maneira ou de outra, por vezes oposta.