Humor em contextos interculturais: emigração portuguesa no digital

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Resumo

O humor constitui inegavelmente um desses lugares onde se jogam as questões da(s) identidade(s) e da(s) pertença(s). Em contexto intercultural, o humor étnico pode constituir ora uma estratégia de controlo social por parte da esfera dominante, ora um mecanismo de emancipação e de criação subversiva por parte dos dominados. É um dos espaços discursivos que melhor permite aferir o estatuto de um grupo minoritário numa dada sociedade. Em França, os portugueses são tradicionalmente considerados como uma população silenciosa, trabalhadora, bem integrada e que não coloca problemas. Em Portugal, há mais de dois séculos que a representação social dos emigrantes tem oscilado entre o reconhecimento dos percursos de sucesso e a estigmatização do estatuto e práticas socioculturais. A experiência migratória é deveras um lugar onde se entrecruzam jurisdições identitárias (origem étnica, género, estatuto social, religião, etc.). Ser migrante ou seu descendente é sentir-se amiúde empurrado para as margens da esfera pública, para um duplo estatuto de exterioridade, no país de acolhimento e no de origem. Assim, o humor tem se constituído como uma das estratégias discursivas mobilizadas pelas diásporas para enfrentar cenários de estigmatização. A autoderrisão dos membros dos grupos minoritários, alvo dos anedotários nacionais, constitui uma estratégia coletiva que ajuda não só a mitigar os efeitos da exclusão social, mas sobretudo a (re)contextualizar os estereótipos veiculados no espaço público. Todavia, a significação social de uma piada depende da tipologia do locutor, do auditor e do tema, mas também do contexto espácio-temporal em que é verbalizada. A 22 de agosto de 2009, a dupla de humoristas Ro & Cut publicou na plataforma YouTube o vídeo Carglouch – paródia de uma célebre publicidade –, o primeiro e mais popular de uma série de sete dezenas de produções que, a 25/02/22, totalizavam 127 242 055 visualizações, 903 977 likes e 31 756 comentários, num total de 05h 15mn 28s de emissão, assim como 628 000 seguidores no perfil Facebook. Constituída por Rodolfo Ferreira Rebelo e Mohamed Ould Bouziz, respetivamente de origem portuguesa e argelina, é, sem dúvida, a mais popular junto da diáspora. Embora se alimente essencialmente do quotidiano da comunidade portuguesa, uma das chaves da sua visibilidade consiste precisamente em articular conteúdos híbridos com públicos diferenciados (diáspora portuguesa, portugueses, franceses, outras migrações) de autoderrisão (traços físicos, práticas socioculturais, desvio aos padrões linguísticos, etc.). Esta produção suscita leituras plurais em função das experiências respetivas dos recetores e dos papéis que atribuem aos personagens. Deste modo, procurámos analisar as receções diferenciadas entre portugueses e lusodescendentes residentes em frança sobre o humor étnico. Utilizando a metodologia quantitativa, através de inquéritos por questionários endereçados a públicos de língua francesa e/ou portuguesa, procurou-se especificamente verificar as diversas formas de interpretação das mensagens produzidas pela dupla de humoristas, em função de variáveis como o estatuto migratório (primeira geração, lusodescendentes, ex-emigrantes, etc.), mas também da área de residência, da formação académica e categoria socioprofissional e ainda do género.
Idioma originalPortuguese
Número de páginas1
Estado da publicaçãoPublicado - out. 2022
EventoXIV Congresso da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom) - Universidade do Porto, Porto
Duração: 25 out. 202226 out. 2022

Conferência

ConferênciaXIV Congresso da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom)
País/TerritórioPortugal
CidadePorto
Período25/10/2226/10/22

Keywords

  • Humor étnico
  • Alteridade
  • Diáspora portuguesa
  • Redes sociais

Citação