Resumo
Em 1810, Johann Wolfgang Goethe sugeria, em Zur Farbenlehre, que a cor é um fenômeno de difícil classificação por resultar da fisiologia, da física e da perceção. O facto de a cor parecer ser, em grande medida, experiencial coloca um problema interessante (e desafiador) quando estamos perante uma obra literária que se centra nela. Neste artigo, defendo que a questão é, por natureza, translacional e pode tomar forma a dois níveis: primeiro, ao nível da representação na obra literária – como se traduz uma experiência visual em palavras? – e, segundo, ao nível da sua re-representação em tradução – como se traduz o que é essencialmente uma experiência visual que por si só já é tradução? Sugiro que, sempre que a cor é constitutiva, semântica e/ou morfologicamente, do sentido em literatura, o texto é habitado por um grau da intraduzibilidade. O desafio que a cor coloca às leis da probabilidade translatória merece estudo, porquanto pode pôr a descoberto um manancial de criatividade e resistência ao entendimento solipsista de arte. Neste artigo, lerei ‘Ghosts’ de Paul Auster, narrativa que integra A Trilogia de Nova Iorque, como um texto que sugere uma hermenêutica da cor enraizada na cultura – ora, isto torna a narrativa parcialmente intraduzível a um nível fundamental. Assim, discutirei o paradoxo que esta intraduzibilidade fundamental constitui perante a tradução real da obra no contexto das duas traduções existentes em português europeu.
Idioma original | English |
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Páginas (de-até) | 86-96 |
Número de páginas | 11 |
Revista | Revista de Letras |
Volume | 37 |
Número de emissão | 1 |
Estado da publicação | Publicado - 25 set. 2018 |
Keywords
- Colours
- (Un)translatability
- Language diversity
- Literary culture