Early feeding patterns, nutritional status and growth in Portuguese children 12-36 months
: a national representative study

Tese do aluno

Resumo

A programação metabólica resulta da influência de experiências ambientais precoces, particularmente nutricionais, na expressão futura do binomio saúde-doença, nomeadamente de doença não comunicável. O período antes da conceção, a gravidez e os primeiros anos de vida constituem uma janela de elevada sensibilidade relativamente ao efeito do ambiente sobre a plasticidade genética, com repercussões sobre a saúde em geral e particularmente o estado nutricional futuro. O conhecimento sobre cada fator modificável é essencial para o estabelecimento de recomendações para a idade pediátrica, mas também para os adultos em idade reprodutiva. O EPACI Portugal 2012, Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento na Infância, teve como objetivo estudar o padrão alimentar e o estado nutricional das crianças portuguesas. Tratou-se de um estudo representativo nacional que incluiu 2230 crianças entre os 12-36 meses e decorreu em 2012-2013, em 128 Unidades de Saúde de Portugal Continental, aleatoriamente selecionadas. Com recurso a uma equipa de entrevistadores treinados, foi aplicado um questionário, que incluiu a recolha de dados sociodemográficos dos progenitores, antecedentes de saúde, práticas alimentares e dados antropométricos das crianças em diferentes marcos temporais com base na consulta do Boletim de Saúde Infantil e Juvenil, bem como a medição do peso, comprimento/estatura e perímetro cefálico no momento da avaliação. Foi posteriormente calculado o índice de massa corporal (IMC), sendo o estado nutricional caracterizado com base nos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). A informação relativa à alimentação atual foi obtida através de um diário alimentar de três dias. Foi analisada uma subamostra de 2009 crianças de termo para descrever as práticas alimentares precoces. A maioria iniciou aleitamento materno (AM), mas a prevalência diminuiu ao longo do tempo. Apenas cerca de 20% cumpriram as recomendações da OMS relativamente ao aleitamento materno exclusivo durante seis meses. A maior parte dos lactentes cumpriu as recomendações da Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) relativas ao momento de introdução da diversificação alimentar (DA). Os alimentos introduzidos e a idade de introdução de cada um respeitaram as recomendações, com a exceção dos alimentos ricos em açúcar, que foram precoce e excessivamente consumidos. Nenhuma associação foi encontrada entre o AM ou momento da DA e a expressão do excesso de peso (EP)/obesidade (OB). Para analisar a prevalência de inadequação nutricional, e na ausência de recomendações nacionais ou da adoção oficial de uma referência, procedeu-se à análise das recomendações nutricionais existentes. Após a revisão das recomendações mais usadas e à sua sistematização, foi efetuada a comparação das três principais recomendações internacionais: Food and Nutrition Board/Institute of Medicine (FNB/IOM), Food and Agriculture Organization of the United Nations/World Health Organization (FAO/WHO) e European Food Safety Authority/European Commission (EFSA/EC). As recomendações da EFSA, estabelecidas para a realidade europeia, são as mais recentes e apresentam uma grande solidez metodológica, tendo sido as escolhidas para quantificar a adequação nutricional das crianças portuguesas. Para o efeito, foram avaliadas a ingestão e a inadequação nutricionais e os principais fornecedores de energia, macronutrientes e alguns micronutrientes, numa subamostra de 853 crianças, correspondente às que preencheram os diários alimentares. Observou-se que a maior parte das crianças excedia as recomendações para a energia, mas consumia uma baixa proporção de energia fornecida pela gordura. A média de ingestão diária de proteína era cerca de cinco vezes superior ao recomendado, sendo o leite o principal fornecedor de energia e proteína. A maior parte das crianças excedia a ingestão de sódio e nenhuma atingia a ingestão recomendada para a vitamina D. À data da avaliação, 32.0% das crianças encontravam-se em risco de EP, z-score de IMC (ZIMC) >1, e mais de metade dos progenitores apresentavam EP/OB. A idade materna mais elevada e um ganho de peso gestacional (GPG) abaixo das recomendações relacionaram-se com um menor zIMC na descendência, enquanto a OB materna no momento da avaliação e um elevado IMC antes da gravidez se associaram com um maior zIMC nos filhos. Cerca de metade das mães com EP ou OB tiveram um GPG acima das recomendações. Torna-se crucial desenvolver ferramentas de identificação e intervenção precoce no ciclo de vida, visando a prevenção da doença não comunicável em idade adulta e em particular a transmissão transgeracional da OB.
Data do prémio23 fev. 2024
Idioma originalEnglish
Instituição de premiação
  • Universidade Católica Portuguesa
SupervisorCarla Maria Barreto da Silva de Sousa Rêgo (Supervisor) & Elisabete Pinto (Co-Orientador)

Keywords

  • Padrão alimentar precoce
  • Estado nutricional
  • Obesidade
  • Programação
  • Crianças portuguesas de pouca idade

Designação

  • Doutoramento em Biotecnologia

Citação

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