O presente estudo tem como objeto o ensino profissional, enquanto oferta formativa duplamente qualificante do ensino secundário português, que, apesar de contar com mais de 32 anos de história, desde a sua criação em 1989, ainda enfrenta dilemas e desafios que têm marcado a sua evolução e procura, ao longo do tempo, a sua aceitação, valorização e reconhecimento ao nível político, educacional, social e empresarial. Considerando a centralidade e a importância desta oferta formativa, importa procurar compreender o reiterado incumprimento de uma meta política estabelecida para o país de ter 50% dos jovens do ensino secundário a frequentarem ofertas formativas qualificantes (cursos profissionais). Esta meta definida para o ano 2010 não foi cumprida. Redefinida para o ano de 2020 continua a não ser alcançada, apesar da promoção política desta via de ensino, quer nos discursos políticos, quer nos mais recentes programas de governo. No caminho de procura de respostas para o problema em estudo, realizamos um estudo de conteúdo dos programas de governo publicados até ao ano de 2020, a partir do qual procuramos compreender e analisar a evolução do ensino profissional do ponto de vista das medidas políticas anunciadas, identificando cinco dimensões onde evidenciamos a regulação débil da ação política governativa dos últimos 44 anos no que à valorização do ensino profissional diz respeito. Prosseguimos com o estudo do ensino profissional enquanto modelo de inovação educacional em Portugal, e apresentamos um estudo de caso sobre a implementação do modelo de inovação ETHAZI, adotado no País Basco, numa escola profissional, a partir do qual procuramos evidenciar que as próprias escolas profissionais, de dentro para fora, podem contribuir para valorizar esta modalidade de ensino, atraindo jovens e famílias e promovendo o seu sucesso. Por último, realizamos uma síntese diagnóstica sobre as inconsistências e fragilidades que poderão estar a contribuir para que esta modalidade de ensino não seja ainda, nos dias de hoje, reconhecida como equivalente à dos cursos científico-humanísticos pelos diversos atores do mundo laboral, do mundo escolar e do mundo político. Terminamos com a identificação de linhas de ação no mundo político, mundo escolar e mundo laboral que poderão inverter, no nosso entender, o quadro atual da procura e do interesse por esta via se ensino. Sendo o problema em estudo vasto, complexo e polifacetado, com dimensões de análise muito diversificadas e com inúmeros caminhos de investigação que poderiam ter sido adotados, seguimos um paradigma hermenêutico ou interpretativo. Esta é uma investigação de natureza qualitativa, apresentando-se como um estudo naturalista descritivo, em que recorremos a diferentes métodos, designadamente o extensivo (survey) em pequena escala e o estudo de caso. Para tal, utilizamos diferentes instrumentos de recolha de dados como documentos de relevo e interesse para o estudo, inquéritos por questionário e o diário do investigador. Para analisarmos os dados recolhidos recorremos às técnicas de análise de conteúdo e de análise estatística. Os resultados obtidos foram validados pela triangulação de fontes de dados, de sujeitos e pela triangulação metodológica. A análise e síntese interpretativa realizada permitem-nos concluir que estaremos perante um problema de inconsistência e fragilidade das políticas de educação e de formação, de licealização de toda a oferta formativa de nível secundário, de desvalorização escolar da oferta de índole profissionalizante e de “desligamento” face às necessidades da procura de qualificações pertinentes e relevantes. Entendemos que a premência de novos impulsos no ensino profissional deve conduzir os atores do mundo político, do mundo laboral e do mundo escolar ao estabelecimento de um pacto de ação comum, o qual permitirá articular, em termos de necessidades e interesses, os três vértices do triângulo no qual representamos as escolas, os jovens e as famílias e os empregadores de uma determinada região, em benefício do desenvolvimento futuro do ensino profissional em Portugal.
| Data do prémio | 18 nov. 2022 |
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| Idioma original | Portuguese |
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| Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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| Supervisor | José Matias Alves (Supervisor) |
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