Muitos artistas contemporâneos têm vindo a reutilizar sucata metálica revestida a tinta como meio artístico e, tal como qualquer outro material, esta pode deteriorar-se. No entanto, os estudos sobre revestimentos de tinta de objetos industriais são ainda escassos, mesmo dentro do património industrial, que se centra principalmente em máquinas e ferramentas patrimoniais. De forma a compreender melhor os revestimentos de tinta dos objetos industriais, na Arte Contemporânea, foram utilizadas, como casos de estudo, duas esculturas do artista moçambicano Gonçalo Mabunda, “Eu sou das Massas” e “Dá ao Povo o que é do César”. As suas esculturas são compostas por sucata metálica revestida a tinta, que sofre a perda do seu revestimento devido à corrosão. Este estudo tem como objetivo fornecer pensamento crítico que irá contribuir para o desenvolvimento de estratégias adequadas de conservação de obras de arte que integrem sucata metálica revestida a tinta. Para atingir o nosso objetivo, foram combinadas duas abordagens, de modo a se obter uma melhor compreensão da materialidade destas esculturas, a sua corrasão, e a postura do artista em relação à sua preservação: entrevista ao artista e análises científicas. Através da entrevista realizada, descobrimos as motivações por detrás das decisões criativas do artista e de algumas das suas atitudes conflitantes em relação à conservação. De modo a entender a materialidade das suas obras, foram recolhidas amostras dos revestimentos de tinta de duas das suas esculturas, para analise científica, e observadas as suas secções transversais com recurso a um microscópio óptico. A Espectroscopia de Fluorescência de Riaos-X (XRF) foi empregue na identificação da composição elementar dos revestimentos de tinta, enquanto a Espectroscopia Raman e a Espectroscopia de Infravermelhos por Transformada de Fourier (FTIR) foram utilizadas nas análises moleculares. Os pigmentos identificados, azul e verde de ftalocianina, amarelo e amarelo-alaranjado de crómio, goethite, vermelho azo, óxido de ferro vermelho e branco de titânio, são aqueles que terão sido utilizados em objetos do património industrial dos últimos dois séculos. O sulfato de bário, a carga identificada, também foi relatado. O seu contínuo uso até aos dias de hoje demonstra a sua durabilidade e eficácia em sistemas de revestimento. Ademais, a identificação do alquídico como aglutinante é coerente com a mudança da indústria de revestimentos para aglutinantes sintéticos, no século XX. A investigação dos revestimentos de tinta nas esculturas do Mabunda levou à caracterização de um tipo de revestimento muito diferente, uma folha retrorrefletora com múltiplas camadas. Até onde sabemos, este revestimento revestido de sílica é um novo material a ser analisado no contexto da conservação. Por outro lado, a execução do artista, ao soldar peças metálicas umas às outras, permitiu-nos analisar alguns processos de degradação que os revestimentos podem sofrer, quando sujeitos a temperaturas extremas. As descobertas sugeriram que, embora os pigmentos possam não se degradar a determinadas temperaturas, o aglutinante irá, realçando assim a importância de investigar também outros componentes significativos dos revestimentos. Os resultados obtidos através de abordagens multianalíticas e interdisciplinares são uma base importante para o estudo dos materiais que compõem os revestimentos de tintas industriais e para a definição de uma estratégia de conservação relativa a materiais reciclados enquanto obras de arte contemporâneas.
Data do prémio | 11 dez. 2024 |
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Idioma original | English |
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Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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Supervisor | Nuno Camarneiro (Supervisor) & Isabel Tissot (Co-Orientador) |
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- Revestimentos de tinta
- Metais reciclados
- Arte contemporânea
- Estudos de materiais
- Conservação
- Mestrado em Conservação e Restauro de Bens Culturais
Industrial coatings under the spotlight: composition of paint layers of coated scrap metals in contemporary art
Mendoza, C. G. L. (Aluno). 11 dez. 2024
Tese do aluno