Em termos globais, a indústria dos lanifícios tem acompanhado de perto os diferentes momentos históricos do desenvolvimento produtivo, desde os contextos pré-industriais, passando pela manufatura e a industrialização propriamente dita. Em Portugal, essa realidade está também vincada. Contudo, a difusão geográfica da indústria lanifícia portuguesa não é homogénea. Os polos de desenvolvimento pré-industrial e industrial deste setor concentraram-se, historicamente, nas regiões centrais das Beiras e Alto Alentejo, nomeadamente os distritos da Guarda, Castelo Branco e Portalegre, com uma expansão posterior no sentido litoral, em torno do Vale do Tejo e Estremadura. Deste modo, as regiões do centro norte e norte de Portugal não têm uma tradição histórica lanifícia intensa. Não obstante, existiram unidades industriais lanifícias no norte que marcaram, até num sentido de adiantamento tecnológico, este setor da indústria portuguesa. É o caso, por exemplo da fábrica de Lordelo do Ouro, no Porto, a primeira lanifícia a ter cardagem e fiação mecanizadas em Portugal, ainda em 1808. Assim, procurando recuperar a memória histórica e material das lanifícias dos distritos de Aveiro, Porto e Braga, empreendemos este trabalho de investigação, tendo como ponto de partida a inscrição das lanifícias nos inquéritos industriais oitocentistas, o que se reduz a cinco unidades nos seguintes concelhos: Oliveira de Azeméis, Vila Nova de Gaia, Porto, Amarante e Vila Nova de Famalicão. De todas estas fábricas, conhecia-se apenas o destino e localização de duas (Porto e Amarante), as restantes eram consideradas perdidas. Através de uma abordagem interdisciplinar, integrando desde as tecnologias de sistemas de informação geográfica digitais, até às metodologias arqueológicas e historiográficas, foi-nos possível localizar e identificar cada uma das estruturas e compreender os seus processos de implantação, crescimento e declínio, as suas especificidades tecnológicas e culturais. Tal como os seus impactos na paisagem física e o seu legado humano, entre o trabalho e as migrações, as transferências de tecnologia e do próprio capital. Partindo de cada um destes exemplos, procuramos dar continuidade a um processo de reflexão atualizado sobre a seleção patrimonial que se impõe, em torno das memórias e das estruturas, da sua gestão e valorização no seio das comunidades locais que as acolhem.
Data do prémio | 6 jan. 2023 |
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Idioma original | Portuguese |
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Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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Promotores | Fundação para a Ciência e a Tecnologia |
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Supervisor | Eduarda Vieira (Supervisor) & Juan Manuel Cano Sanchiz (Co-Orientador) |
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- Indústria lanifícia
- Arqueologia da industrialização
- Arqueologia documental
- Gestão patrimonial
- HOPHGeo (Historic Orthophotography Georeference)
- Doutoramento em Arte e Património
Memória e legado das lanifícias dos distritos de Aveiro, Braga e Porto (séculos XIX - XXI): proposta metodológica multidisciplinar de estudo e gestão integral do património industrial
Pastor, M. B. D. C. (Aluno). 6 jan. 2023
Tese do aluno