O crucificado Bom Jesus de Matosinhos
: estudo técnico : conservação e restauro de uma escultura medieval

  • Alexandre Manuel Viegas Maniés (Aluno)

Tese do aluno

Resumo

A imagem do crucificado Bom Jesus de Matosinhos insere-se no grupo restrito dos mais antigos existentes em Portugal, provavelmente a sua execução remonta a finais do século XII. Esta escultura tem um conjunto de características que a distingue dos demais: está pregado na cruz com quatro cravos e um perizónio que do lado esquerdo desce até ao tornozelo e no lado direito fica acima do joelho. Esculturas desta época com estas características encontram-se expostas no Museu do Louvre e no Museu dell’Opera del Duomo de Pisa. O objetivo desta intervenção, foi a de proceder ao estudo técnico da obra e contribuir para a estabilização do suporte e das camadas polícromas. Foi identificada a madeira de salgueiro empregue na execução desta imagem. Nas pesquisas realizadas, não registamos a utilização de madeira de salgueiro na execução de imagens de crucificados em Portugal, como também para a elaboração de outras imagens, suportes para pintura, ou estruturas retabulares. O emprego desta madeira era frequente na execução de esculturas em Itália e França, o que provavelmente nos indica que possa ter sido importada. A imagem apresentava um mau estado de conservação e identificaram-se inúmeras intervenções posteriores ao nível do suporte e do revestimento polícromo que alteraram o seu aspeto inicial. O estudo do suporte envolveu o uso da radiografia de raios X, da tomografia computorizada (TC) e a recolha de amostras para datação por radiocarbono por aceleração por espectrometria de massa (AMS). A espectrometria de fluorescência de raios X dispersiva de energia (EDXRF), a microscopia ótica de reflexão com e sem luz polarizada (PLM e OM) e a microscopia eletrónica de varrimento com espectrómetro de raios X dispersivo de energia (SEM-EDS) foram usadas para a identificação de pigmentos e cargas e caracterização da estrutura das camadas de preparação e policromia. No decorrer do tratamento efetuado, verificou-se que as pernas estavam separadas devido a uma fenda longitudinal, e provavelmente por esta razão a imagem foi cortada transversalmente um pouco abaixo da pelve. Estes elementos estavam ligados com uns “grampos” de ferro. A radiografia da cabeça forneceu-nos uma imagem do que parece ter sido uma coroa esculpida, sob adições posteriores de tecidos e gesso. Esta representação de uma coroa esculpida não tem precedentes na escultura de crucificados em Portugal. Os olhos neste momento estão pintados abertos, mas a imagem radiográfica sugere uma linha das pálpebras com os olhos fechados. Estas repolicromias serão provavelmente do período barroco. As várias fases da policromia das carnações, pelo menos sete camadas, foram identificadas pela utilização do microscópio ótico (OM) e microscópio eletrónico de varrimento (SEM) das secções transversais. A coloração original da carnação era em tons amarelos e foi gradualmente alterada para o atual tom rosa. Significativas alterações ocorreram também no revestimento polícromo do perizónio. Por OM e SEM foram identificadas nove camadas de policromia. A decoração original do perizónio seria uma representação de elementos vegetalistas sobre uma base num tom ligeiramente esverdeado, tendo sido em dado momento completamente revestido por folha de ouro. A caracterização destas diferentes camadas policromas permitiu compreender as alterações que estes elementos tiveram ao longo do tempo. No decorrer do tratamento, decidiu-se proceder à remoção dos grampos de ferro que uniam os vários elementos do corpo da imagem, tendo sido substituídos por fibras de carbono e resina epóxida. Foi estudado e desenvolvido um novo sistema de sustentação e fixação da imagem à cruz em aço inoxidável. Retiraram-se os tecidos que revestiam a cabeça e parte significativa do perizónio, como também a cabeleira que perturbava a interpretação da obra. Esta intervenção permite uma leitura unitária da obra, no entanto podem-se observar detalhes decorativos no perizónio de várias épocas. Este trabalho serve para um melhor conhecimento da escultura medieval em que há pouca informação disponível, procurando trazer uma nova luz a este género de arte sacra, não só no campo da História da Arte, mas também conhecimento técnico.
Data do prémio2013
Idioma originalPortuguese
Instituição de premiação
  • Universidade Católica Portuguesa
SupervisorAna Calvo (Supervisor) & Carolina Barata (Supervisor)

Designação

  • Mestrado em Conservação e Restauro de Bens Culturais

Citação

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