O Maquiavel de Leo Strauss
: a ira anti-teológica e o problema teológico-político

  • Tomás Lopes da Cruz (Aluno)

Tese do aluno

Resumo

Nicolau Maquiavel é justamente considerado como um dos expoentes máximos do pensamento moderno. É fácil perdermo-nos entre a diversidade das suas interpretações. Não há escola de pensamento que não aborde Maquiavel e que não reivindique a sua interpretação como a mais genuína leitura do Florentino. Esta dissertação pretende analisar a interpretação de Leo Strauss. Trata-se de uma interpretação que identifica na resposta de Maquiavel ao problema teológico-político o movimento fundacional da modernidade política e filosófica. Strauss procura construir a tese de que Maquiavel pretendeu dissolver a influência da religião cristã e da filosofia clássica da vida política das sociedades do seu tempo, dando primazia a uma atitude marcada por uma nova razão, a que se logrou chamar razão moderna. No cerne desta resposta de Maquiavel está uma atitude que comummente se chama de realismo. Strauss identifica
em Maquiavel a construção de um verdadeiro projecto político-filosófico e de uma estratégia filosófico-literária para o pôr em marcha. Nesse projecto, Maquiavel parte de uma nova concepção política do homem, sobretudo na dimensão de uma rejeição total da influência religiosa. Strauss reflecte sobre este projecto e as suas consequências, destacando na obra do Florentino aquilo a que chama de paixão ou ira anti-teológica. Teria sido esse o espírito a animar a fundação da modernidade, um espírito ainda emprenhe nos seus mais basilares alicerces. A demonstração dessa dimensão anti-religiosa em Maquiavel é o que move todos os esforços exegéticos por parte de Strauss. Mas trata-se de uma interpretação que se funda no próprio entendimento de Strauss do que
deve ser a filosofia, uma dimensão que também trabalharemos nesta dissertação. E também Strauss partilha com Maquiavel a preocupação, quase a obsessão, de procurar a melhor articulação possível entre as diferentes formas de conhecimento que se propõe contribuir para a organização da vida política.
Trata-se de estruturar os contributos da razão e da fé. Para Strauss, trata-se sobretudo de procurar justificar a superioridade da vida filosófica contra os seus adversários, sob a admoestação de que a modernidade não o fez convincentemente. Esperamos que com este trabalho o leitor possa inteirar-se da importância de estudar Maquiavel enquanto um autor decisivo para a compreensão de uma panóplia infindável de problemas dos dias de hoje. Bem como de compreender a perspectiva sob a qual o nosso projecto moderno se fundou, com todas as vantagens e limitações que lhe são próprias.
Data do prémio19 set. 2023
Idioma originalPortuguese
Instituição de premiação
  • Universidade Católica Portuguesa
SupervisorMiguel Morgado (Supervisor)

Designação

  • Mestrado em Ciências Políticas

Citação

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