Inovação é a palavra de ordem da sociedade globalizada do século XXI, onde múltiplas agendas geopolíticas proliferam sob a premissa da procura de soluções para os desafios sociais, ambientais e económicos mais prementes. Desde que na década de 90 do século XX se concedeu à inovação o carater de força estratégica para o progresso, o desenvolvimento humano e para a melhoria da qualidade de vida, cedo foram transpostos desafios para a educação, interpelando a escola a encetar uma transformação no sentido de se tornar mais inclusiva. Contudo, as agendas para a educação focadas na transformação dos processos de escolarização vêm esbarrando na complexidade do próprio sistema e no seu modus operandi marcado pelo presentismo, conservadorismo e individualismo. É nesta conjetura de necessidade de transformação profunda da escola que se desenhou o estudo que consubstancia esta tese de doutoramento. Assim, tomando a inovação como elemento central de um triângulo de forças e lógicas intercruzadas que implicam as lideranças e as culturas de escola, a autonomia e os processos de regulação e controlo, as práticas e o capital profissional dos professores, pretende se compreender quais são os impulsos e obstáculos que enredam a inovação nas escolas. Assumindo um plano pluri/multimetodológico, foram combinados métodos qualitativos e quantitativos, num estudo compreensivo envolvendo uma subpopulação de 60 escolas e agrupamentos de escolas portuguesas que foram avaliados no terceiro ciclo de avaliação da Inspeção, no período de 2018 a 2021. O estudo de perceções de diretores, coordenadores de departamento, professores e elementos da equipa de autoavaliação de escola, bem como, de relatórios de avaliação externa e documentos estruturantes de escola, permitiu reunir evidências, sistematizadas em sete artigos, que indiciam a existência de organizações que operam como sistemas debilmente articulados, marcados por ordens espontâneas frágeis e por existências pseudomórficas, onde a inovação assume um carater marginal. As evidências reunidas apontam para um sistema educativo que reverbera numa interdependência frágil, enredado na complexidade de gerar articulação nas realidades intrincadas dos mega-agrupamentos de escolas, com problemas de mobilização coletiva, com culturas de avaliação que servem o propósito da legitimação, com dificuldade em gerar climas de inovação profícuos e de um capital decisional que suporte a transformação da escola. Urge gerar uma outra organização de escola, uma outra liderança, um outro modo de accountability e uma outra identidade profissional docente. Por conseguinte, dilucidamos um caminho de construção de uma escola fundada no funcionamento interdependente ativado por lideranças transformadoras que operem, também de modo interdependente, para gerar envolvimento a partir da (re)construção de significados por forma a alavancar e mobilizar as vontades individuais e coletivas para, assim, gerenciar ‘estados de fluxo’ organizacional favoráveis à mudança. Neste alinhamento da construção de significados que alimentem uma cultura profissional de liberdade, de compromisso e de responsabilidade, enuncia-se um referencial analítico enquadrador da iniciativa de capital de inovação para a educação que tem como desiderato fomentar a construção de uma outra escola.
Data do prémio | 20 mai. 2024 |
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Idioma original | Portuguese |
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Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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Supervisor | José Matias Alves (Supervisor) & Diana Soares (Co-Orientador) |
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- Inovação
- Autonomia
- Accountability
- Cultura organizacional
- Avaliação externa
- Autoavaliação de escola
- Liderança
- Capital organizacional
- Capital profissional
- Capital transformacional
- Doutoramento em Ciências da Educação
Olhar a cultura organizacional e a liderança na escola pública sob o ethos da inovação
Serra, L. D. J. P. (Aluno). 20 mai. 2024
Tese do aluno