Os produtos da pesca fumados fazem atualmente parte da alimentação dos portugueses, estando acessível a um grande grupo de pessoas. Apresentam-se nas superfícies comerciais portuguesas embaladas a vácuo, em peças pequenas laminados, e ou em forma de filete. Peixes como o salmão, a truta salmonada e o espadarte, com proveniência europeia, são utilizados como matéria-prima para a fumagem a frio do pescado. A vida de prateleira depende do tipo de fumagem a frio aplicado, variando entre 2 a 6 semanas, armazenado a temperaturas de refrigeração <5ºC. As características microbiológicas e físico-químicas têm demonstrado a dominância de Bactérias Ácido-Lácticas, Enterobacteriaceae, e vibrios, havendo a possibilidade de outros microrganismos estarem presentes como é o caso de Listeria monocytogenes, afetando a qualidade e a segurança destes produtos. Nos últimos anos, a tentativa de criar um índice de qualidade de peixe fumado a frio foi alvo de vários estudos, com o objetivo de estabelecer uma correlação entre a vida útil do produto e as características físico-químicas, sensoriais e microbiológicas. A presente investigaçãoteve como principal objetivoa caracterização da ecologia microbiana de peixe fumado a frio disponível no mercado português e à escala piloto, através da produção de peixe fumado a frio, identificando determinadas variáveis com influência na qualidade microbiológica e química destesprodutos. Numa primeira faseda investigação foi efetuada a caracterização microbiológicados produtos de pescado fumado a friodisponíveis no mercado português, essencialmente salmão (Salmo salar) e truta salmonada (Oncorhynchus mykiss). Relativamente à caracterização microbiológica, bactérias isoladas de salmão e truta salmonada foram testadas para a produção de aminas biogénicas, tiramina e de histamina, utilizando meios de cultura específicos de crescimento. Estudos à escala piloto sobre o processo de fumagem a frio de truta salmonada foram conduzidos, com objetivode estudar: a) o efeito da aplicação do ozono, enquanto agente desinfetante em filete e peixe inteiro de truta salmonada fresca na redução de microrganismos viáveis totais e L. innocua; b) a aplicação de um passo prévio de congelação (-20ºC) em amostras individuais de truta salmonada embalada a vácuo na ecologia microbiana do produto; c) o efeito de tratamentos combinados de salga/secagem/fumagem (salga seca e húmida, adição de açúcar na mistura da salga, duração curta e longa de fumagem) e embalamento a vácuo ou em atmosferas modificadas nas características físico-químicas e microbiológicas do produto final.Resultados sobre a classificação das amostras comerciais de peixe fumado a frio embalado a vácuo, demonstraram variabilidade das amostras, pelas diferenças nos períodos de vidas de prateleira e características microbiológicas. Algumas amostras apresentavam já estar muito próximo dos limites de rejeição estabelecidos para produtos prontos a comer, antes de terminar a vida de prateleira. Os resultados evidenciaram que em condições controladas de tempo e temperatura, houve uma diminuição do coeficiente de variação nas amostras, e para o número de microrganismos aeróbicos totais e grupo Enterobacteriaceae. Sobre o resultado da pesquisa de estirpes produtores de aminas biogénicas em condições específicas em meio de cultura, os resultados indicaram a habilidade de algumas bactérias LAB e Enterobacteriaceaeproduzirem tiramina e menos a histamina. Resultados complementares utilizando HPLC para a quantificação das aminas, mostraram níveis elevados de tiramina produzidos pelas bactérias Carnobacterium divergense Lactoccocus lactis lactis. Os resultados envolvendotratamento com ozono gasoso em filetes e em peixe inteiro fresco, mostrou um decréscimo inferior a 1Log10/g de L. innocuaem amostras tratadas com ozono em todas as experiências. Contagens totais de microrganismos viáveis foram baixas no peixe fresco e durante a armazenagem a frio ao final de três semanas. Uma redução superior a 1Log10/g de L. innocuafoi observada em peixe tratadono final do período da armazenagem. Quando retirado o slimeda superfície do peixe, o efeito de redução foi mais pronunciado. Relativamente ao tratamento prévio da congelação (-20ºC) aplicado em amostras individuais fumadas a frio de truta salmonada embalada a vácuo, os resultados evidenciaram um aumento da carga microbiana nas amostras previamente congeladas na primeira semana de armazenamento em refrigeração,essencialmente para as bactérias aeróbias totais, LAB e bactérias produtoras de H2S. Um aumento significativo para bactérias produtoras de H2S foi observado, independentemente do tipo de salga a que foram sujeitos. O processo prévio do passo da congelação pareceu ter menos efeito no grupo Enterobacteriaceae. Alterações na estrutura das proteínas musculares da truta-salmonada após o processo de salga/fumagem, foram evidenciadas nos termogramas obtidos por Differencial Scanning Calorimetry (DSC).A estabilidade das proteínas miofibrilares foram afetadas pelo processo da salga/fumagem e o processo adicional de congelação poderá afetara qualidade microbiológica da truta-salmonada fumada a frio.Os resultados obtidos sobre os tratamentos combinados da salga/secagem/fumagem revelaram que a salga húmida e salga seca apresentaram diferentes efeitos nas características físico-químicas e microbiológicas do produto final. Na generalidade, a salga seca apresentou efeito maior na perda de peso (menor rendimento do processo), e melhor desempenho na obtenção de teores de sal em fase aquosa, havendo efeito no controlo/redução do crescimento microbiano. A presença de maior teor de açúcarna mistura com sal (sal:açucar|3:1) induziu um incremento no crescimento microbiano nas amostras em geral, quando comparado com a mistura (sal:açucar|5:1).Relativamente ao efeito da fumagem, os resultados indicaram que a combinação 6h de secagem e 2h de fumagem (Grupo II) induziu um crescimento significativo de bactérias ácido lácticasno produto final, com efeitos similares em outros microrganismos, como o grupo Enterobacteriaceaee bactérias produtoras de H2S. Ao final de três semanas de armazenamento em refrigeração, foram registadas um aumento do teor médio de trimetilamina (TMA) (superior a 30 mg. em 100 g de peixe). Comparativamente, o tratamento combinado de 2h de secagem e 6h de fumagem (Grupo I) mostrou ser mais eficaz no controlo do crescimento microbiano, em amostras tratadas por salda seca (8h) e embaladas a vácuo ou em atmosferas modificadas.O embalamento em atmosferas modificadas representa uma alternativa reduzindo a actividade microbiana de alguns microorganismos degradativos. Genericamente o presente estudo evidencia a necessidade do controlo e implementação de procedimentos controlados no processo de produção de fumagem a frio de pescado, considerando (1) A qualidade microbiológica e química da matéria-prima; (2) A definição do processo tecnológico a aplicar (descrição, objetivos e características produto final) e (3) Tipo de embalamento e controlo das condições de armazenagem. A criação de processos de fumagem a frio de peixe baseados em ‘'hurdle concept technology’ poderão através da sinergia dos agentes de preservação constituir uma solução à estabilidade e comercialização em segurança destes produtos.
Data do prémio | 30 jul. 2019 |
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Idioma original | English |
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Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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Supervisor | Paul Gibbs (Supervisor) |
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