O transplante renal é hoje considerado como a melhor e mais eficaz alternativa terapêutica para os doentes renais em estádio terminal. Apesar do seu elevado índice de sucesso, está sujeito a prevalência elevada de complicações, sendo o maior limitador da sobrevida dos rins transplantados o desenvolvimento da nefropatia crónica do enxerto que pode levar à perda de função do enxerto. Esta, apresenta múltiplos factores de risco imunológicos tais como compatibilidade dos antigénios do sistema HLA, ocorrência de episódios de rejeição aguda, presença de anticorpos anti-HLA, transfusões de sangue, transplantes prévios e a resposta imune subliminar continuada ao aloenxerto, e factores não imunológicos que incluem a idade e o tipo de morte do dador, quantidade de nefrónios enxertada no receptor, agressão pela isquemia/reperfusão e o uso de inibidores da calcineurina. Os objetivos deste trabalho são: 1) caracterizar em termos demográficos uma população de transplantados renais, avaliando diferentes variáveis referentes ao receptor, ao dador e ao enxerto; 2) avaliar, diferentes variáveis imunológicas e não imunológicas, no receptor, dador e enxerto; 3) identificar os possíveis factores de risco associados à rejeição/perda do enxerto. Avaliamos retrospectivamente uma população de transplantados do Norte de Portugal, no período de Janeiro de 1983 a Junho de 2010. Foram analisados possíveis factores determinantes para a rejeição/perda do órgão no receptor, dador e enxerto; as variáveis analisadas no receptor incluíram: sexo, idade, número de gestações, número de transfusões, tempo de diálise, causa de insuficiência renal, presença de anticorpos anti- HLA, função renal tardia e episódios de rejeição; as variáveis analisadas no dador incluíram: sexo, idade, causa de morte e tipo de dador; compatibilidade no sistema HLA e tempo de isquemia fria foram os factores referentes ao transplante. Os transplantados que perderam a função renal e regressaram à diálise foram considerados como tendo rejeitado/perdido o enxerto. Dos 3220 transplantados renais, 1022 (31,4%) perderam o enxerto e 2198 (68,3%) mantiveram o enxerto funcionante. A duração média do transplante foi de 159 ± 166 meses. A principal causa de perda do enxerto foi a rejeição crónica (30,0%). A análise multivariada revelou uma forte associação entre a rejeição/perda do enxerto e a presença de anticorpos de novo (RR=7.53; p <0.001), função tardia (RR=2.49; p <0.004) e pré sensibilização com anticorpos anti HLA (RR=2.79; p <0.010). Neste trabalho identificamos factores de risco no receptor e no dador de rim associados à falência do enxerto. Dado que o fenómeno da rejeição/perda do enxerto é multifactorial, a determinação e prevenção dos seus factores de risco podem contribuir para um significativo aumento da sobrevida do enxerto renal e melhorar a qualidade de vida do doente transplantado renal.
Data do prémio | 2023 |
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Idioma original | Portuguese |
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Instituição de premiação | - Universidade Católica Portuguesa
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Supervisor | Elísio Costa (Supervisor) & José Fernando Teixeira (Co-Orientador) |
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- Mestrado em Análises Clínicas e Saúde Pública
Transplante renal: caracterização de uma população e avaliação de factores de risco para a rejeição/perda do enxerto
Mendes, C. M. M. C. (Aluno). 2023
Tese do aluno